Balanço da 9ª Mostra Tiradentes SP: foco no processo criativo

Entre os dias 18 e 24 de março, foi realizada pela Universo Produção a 9ª edição da Mostra de Tiradentes |SP 2021, que reuniu profissionais do audiovisual e público de maneira digital para participarem de quatro debates conceituais com base na temática do evento: “Vertentes da Criação”. Assim, o destaque ficou para o processo criativo envolvido no cinema do ponto de vista de diretores, atores e atrizes.

Já na noite de abertura do evento, no dia 18 de março, a produtora, atriz e diretora Maria Tereza Urias | SP evidenciou que não existe uma fórmula exata para o trabalho de criação em um coletivo cinematográfico. “Cada coletivo se forma na experiência das pessoas envolvidas e isso tem impacto criativo em todo o processo. Cada experiência é única”. Nesta mesma noite, o cineasta Cristiano Burlan | SP afirmou que fazer cinema é um ato de resistência e paixão e que o cinema brasileiro e latino-americano é marcado pela falta de recursos. “O impedimento de fazer alguma coisa deve ser a forma motriz para nosso trabalho. Isso é motivo pra gente continuar fazendo e realizando. A câmera é um instrumento de precisão para entender esse mundo”. O cineasta ressaltou ainda que o momento pandêmico e de crise político-social do Brasil tornam o fazer cinematográfico ainda mais necessário “para não esquecermos o que estamos passando”. A falta de mobilização do setor cinematográfico também foi salientada. “Estabelecer os diálogos é muito mais difícil. Temos muito mais dificuldade em estabelecer uma luta conjunta e mais efetiva”, sublinhou a produtora, atriz e diretora Maria Tereza Urias.

Sobre os caminhos da dramaturgia no cinema brasileiro contemporâneo, Liliane Rovaris evidenciou que a riqueza do trabalho de atores e atrizes está na instabilidade da construção da dramaturgia. “São muitos filmes e muitas formas de atuar. Não existe uma fórmula. São muitos modos possíveis de se criar. É muito legal pensar o trabalho do ator assim, como um risco e uma constante investigação e escuta do outro”.

Já a discussão sobre os processos de criação de invenção no cinema experimental destacou a importância da montagem para este gênero. De acordo com o cineasta Gustavo Jahn, “essa é uma das características do filme experimental. Temos essa vontade de testar, esse gosto grande pela descoberta. Talvez seja a maneira possível de fazer filmes no Brasil na atualidade”.

A importância dos preparadores de elenco também esteve em relevo nos debates da Mostra Tiradentes | SP, que evidenciou a contribuição desses profissionais para a preparação dos corpos dos atores e atrizes, para a construção da emoção das personagens e para o resultado dos filmes nas telas. Conforme ressaltou Mohana Uchôa, atriz do curta “Novo Mundo”, “preparamos muito o terreno, a base emocional para descolonizar o meu corpo. Trabalhamos para abrir espaços e ir reconhecendo quem é essa personagem, no que ela acredita, o que ela busca. Tivemos uma preparação emocional muito grande, para dar vazão a mensagem do filme”.

Outro tema recorrente nos debates foi a relevância de eventos como a Mostra Tiradentes |SP para o cinema brasileiro contemporâneo como lugares para ver e debater os filmes e espaço de diálogo e de troca de experiências. Os cineastas Luciana Mazeto e Gustavo Jahn salientaram que os eventos em formato online possibilitaram que mais pessoas tivessem acesso aos filmes. Mas o diretor catarinense ressaltou sentir falta dos espaços e da experiência presencial de exibição. “É essencial termos em mente a importância do cinema presencial”.

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